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Foto do escritorBernardo Zirkheuer

#LTLWSKH

Hoje é segunda feira, dia 18 de novembro de 2024 e nesse momento são 22:08 da noite...

Os olhos mal conseguem enxergam, devido as lagrimas que correm por eles. Eu achava que sabia o que era saudade e o tamanho de sua dor, mas você ainda tinha um ultimo ensinamento pra me deixar, pois claramente, nunca senti algo assim.

Eu não te escolhi minha vida, você quem me escolheu.

Eu adoro essa história, pois ela é a mais verdadeira das histórias de amor possíveis. Quando sai de casa pra ir ao mercado, naquele domingo comum, eu nunca achei que fosse cruzar com um ser que mudaria tanto a minha vida, afinal, nem a procura eu estava.

Mas, quis o destino que o nosso olhar se cruzasse na calcada do Zona Sul, você naquele cercadinho, sendo atacado por dois Spritz e eu com uma pena gigante de você.

Primeiro, olhei de longe, por curiosidade, depois, eu posso jurar que vi você me olhando e sorrindo pra mim, eu tenho esse corte na minha cabeça... E foi ai que me aproximei. Estiquei a mão e você logo a abraçou, tudo bem, era um pedido de socorro, como quem diz:

Me tira de perto dessas coisaaaaas! Porém, ali, instantaneamente, a gente se conectou. Mas, tínhamos dois grandes problemas, eu não tinha ideia do seu valor e eu não tinha ideia de como convencer lá em casa que a gente (ex-esposa e um cachorro) precisávamos de você. E, com muito receio de te perder, voltei pra casa, com seu cheiro (que não era dos melhores, eu confesso) e seu rostinho lindo na minha mente. Foi a conversa mais desafiadora da minha vida. Como convencer alguém que já tem um cachorro a querer outro cachorro? Esse meu pensamento, obviamente se tornou parte de uma breve pesquisa no google. Mas nem precisou muito, bastava eu falar de você. A minha alegria e o brilho nos olhos fizeram com que a conversa fosse positiva e fossemos até lá pra te conhecer melhor. No caminho, meu coração estava tão acelerado e eu tinha tanto medo de você não estar lá, que eu me lembro do enjoo vindo na boca... Mas, pra felicidade da minha vida, você ainda estava lá, com as mesma mordidas indesejadas de antes e o mesmo olhar carente. Te pegar no colo e trazer você pra casa, foi a sensação mais incrível que eu já senti na vida. E eu mal sabia que você ia fazer tamanha diferença nela. Depois de um tempo, veio a separação no casamento e de tudo que eu já tinha construído e conquistado, a única coisa da qual eu não poderia aceitar que fosse embora, era você. Doeu ver seu irmão de criação ir embora também, mas era mais uma das inúmeras perdas que a vida me deu. E ver você ficar, naquela casa enorme sem muitos moveis, fazia tudo ser positivo. Inclusive nas noites sem cama, o mais confortável do chão confortáveis era ter como companhia você. E foram algumas noites, umas no chão, outras no sofá, mas sempre com você. E se isso parecia um desafio enorme, quando a pandemia apertou, as coisas se tornaram muito mais difíceis e complicadas.

Foram dias de incertezas no profissional, mas se eu não desisti, foi muito por acreditar em mim, mas muito por amar você. Alias, por varias noites, naquela casa, o que nos mantinha de pé, era o amor entre eu e você.

Mas, um belo dia, a depressão me encontrou, e ela piorou mais quando veio a noticia que eu ia ter que deixar a nossa casa, alugada, mas a casa que eu mais queria. A casa que até hoje me arranca suspiros quando vejo, sorrisos quando lembro e saudade quando cruzo com fotos. Ela definitivamente era a casa dos meus planos. Foi difícil, muito difícil. E quando por muito pouco eu cheguei perto de desistir mergulhando em aguas frias, de todas as incertezas que eu senti, a de nunca mais ver você, foi uma das que me fizeram desistir de desistir. E lá estava eu, de volta ao carro mais uma vez. E mais uma vez, você me ensinou muito ali. Uma nova mudança pra mim, a primeira mudança pra você. E agora, com seu irmão mais uma vez com a gente, eramos muito felizes assim.

Um dia, sem nenhuma explicação, tiraram seu irmão de mim. Sofri, resisti e nunca entendi. Mas você me ajudou a seguir. Pouco tempo depois, com a pandemia chegando ao fim, veio mais uma pancada pra mim,

a perda da minha mãe, após 2 meses lutando contra um câncer.

E todas as vezes que cheguei em casa chorando, sem energia, foi em você que encontrei o amor e o alivio.

E foi ali, naquele dia 16 de Novembro, que definitivamente, eu passei a só ter você por mim. Agora, mais do que nunca era assim.

Soube de repente que seu irmão tinha partido. Sofri, mas quando cheguei a noite e te abracei, sei que o sentimos ali. E, repentinamente, quando achei que nenhuma perda existiria, quis o destino aprontar pra mim. Perdi, sem poder fazer nada, um pedaço de mim. E , mais uma vez, você estava ali. E, aos 32 anos eu já tinha vivido todas as perdas que eu era capaz de sentir. Pai, Mãe, Cachorro, filho... Não sabia que dessas perdas a pior estava por vir. Quando no ano passado você sofreu aquele problema de coluna, eu morri de medo de ver você sofrer. Te ver com tanta dor, causava ainda mais dor em mim. Sair de casa pra trabalhar era uma das tarefas que eu mais temia, pois morria de medo de você ter alguma crise e eu não poder estar ali.

A gente correu tanto e você, na medida do possível, venceu tudo isso. Tiramos as suas aventuras de subir escadas, mas seus enormes saltos nas quatros patas, issp a gente nunca conseguiu impedir. Tinha certeza que a gente ainda teria muitas coisas boas por vir. Mas, eu errei meu amor, eu não previ.


O tempo não segue a nossa vontade, o tempo não corre conforme a nossa expectativa, o tempo

tem seu próprio tempo e quando ele não é o nosso, ele machuca, machuca de um jeito que não tem como cicatrizar. O tempo parou pra você, o tempo parou pra gente e eu queria muito poder trocar de lugar com você, pra te ver tendo muito mais tempo pra ser feliz. Mas pq? Pq eu não vejo a necessidade de mais tempo se nele não tem eu e você. O tempo sem você é igual, horas diferentes, mas com o mesmo vazio, a mesma falta de cor ao descer as escadas e não te ver.

E esse vazio... Desculpa...

Doi. Eu não consigo entender.

E mesmo com a minha enorme ausência de fé, ja foram horas e horas procurando uma resposta sobre como e quando vou reencontrar você. Como e quando vou abraçar você.


E a resposta é sempre a mesma, não da pra saber. As vezes queria ter coragem de acelerar o tempo, as vezes queria ter coragem pra te encontrar logo. Mas as vezes preciso deixar o medo vencer.

Sei que você vai entender.


Sua irmã ainda precisa crescer, seu irmão felino ainda tem muito a viver e em algum momento,

que eu peço que não demore muito, eu vou encontrar com você.

Minha fé pode ser curta, mas o meu amor é gigante, isso vai unir novamente eu e você.


E nisso eu sempre vou crer.





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